quarta-feira, 10 de abril de 2013

"Furo jornalístico": Adriana entrevista Miguel Torga

 


P. Qual é o seu verdadeiro nome?

R. O meu verdadeiro nome é Adolfo Correia da Rocha, visto que Miguel Torga é um pseudónimo.
P. Porquê a escolha de um pseudónimo?

Pretendi prestar uma homenagem a dois grandes vultos da cultura: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno; e Torga por ser uma planta brava da minha terra, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule incrivelmente rectilíneo.

P. Onde e quando é que nasceu?

R. Nasci a 12 de Agosto de 1907 em São Martinho de Anta, pertencente ao concelho de Sabrosa (Vila Real).

 P. Como foi a sua infância?

R. Em 1917, com dez anos, fui para uma casa do Porto, habitada por alguns dos meus parentes, na qual servia de porteiro, moço de recados, regava o jardim, limpava o pó e polia os metais da escadaria. No entanto, fui despedido um ano depois, devido à constante insubmissão.

P. No ano seguinte, foi mandado para um seminário. Como foi essa experiência?

R. Em 1918 fui mandado para o seminário de Lamego, onde vivi um dos anos mais cruciais da minha vida. Foi lá que estudei  Português, Geografia e História e também aprendi latim. No entanto, uma vez que não era minha vocação ser padre, pedi ao meu pai para sair do seminário.

P. Qual foi então o seu percurso após a saída do seminário?

R. No ano seguinte, isto é, em 1920 fui trabalhar numa fazenda de um tio meu no Brasil. Ao fim de quatro anos, o meu tio apercebe-se das minhas capacidades e fui continuar os meus estudos. Como fui bom aluno, ao fim de cinco anos, e terminados os estudos liceais, enviou-me para Coimbra, considerando que podia ser doutor.

P. Que área é que estudou na Universidade de Coimbra?

R. Optei por Medicina por considerar ser minha vocação cuidar dos outros, particularmente dos mais necessitados. Exerci Medicina na minha terra natal e ao fim de alguns anos em Coimbra.

P. Como surgiu a sua obra literária?

R. Surgiu a partir da minha profunda admiração e amor pela natureza e pela pessoa humana. A minha obra literária reflecte também a minha revolta interior pela opressão daqueles que não tinham voz nem vez, isto é, daqueles que viviam despidos da sua dignidade humana, marcada pelo regime ditatorial implantado na sociedade portuguesa e que durou até Abril de 74.
(texto submetido a alterações)

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